UTI

Hoje ela saiu da UTI; tá tudo bem com a minha protegida.

Os olhinhos cansados e perdidos do meu pai tranformaram-se em sorriso enquanto ele me contava que a amada dele já está fora de qualquer risco. É que antes o risco de ela ir lá para o céu tava tão grande que acabou rabiscando o meu pai e me rabiscando também.
Rabiscos machucam tanto. 
Era como se cada tubinho que estivesse ali entrando nela pra fazer ela ficar melhor fosse uma mão apertando o meu estômago, e como se cada fraca demonstração de "eu sou forte" do meu pai vazando pela aquela voz desbotada me afogasse em uma vontade de fazer algo.
Sem saber direito o que fazer eu rezei. Rezei muito.  Eu deitava na minha cama, olhava pro teto e ficava mentalizando tudo de bom, enquanto pedia desculpas se eu estava pedindo muito sem agradecer.
Em um dia desses, ante ontem, quando o medo apertou meu coração e me deixou com raiva do mundo por coisas ruins acontecerem com pessoas tão boas, eu abracei meus cachorrinhos, já que abraçar meu travesseiro já não surtia mais efeito, e comecei a pedir pra esses pensamentos feios saírem de mim.
Ter raiva do mundo só piora as coisas.
No fim, tudo deu certo e ela saiu do tratamento intensivo de lá.
Mas o tratamento intensivo dentro de mim continua. Quero ser mais forte, quero ser mais pra ti.
Agora, mãe, eu deixei de ser tua protegida...


















Chegou a tua vez de ser protegida por mim. Pra sempre.