Conversar

E tava tudo torto. Bem torto. Cacos de vidro, faíscas, arame farpado. Torto assim...
Então eu comecei a passar no meu lugar favorito sempre que dava só pra rezar. Rezar do meu jeito, porque nunca fui muito boa com rezas e religiões. Eu simplesmente ía lá, sentava, olhava pro céu, e começava a falar. Eu falava olhando pras nuvens, ou olhando pro céu quando elas não estavam lá. E isso me acalmava.
Eu pedia tanta coisa. Mais pedia do que agradecia, e no final sempre me desculpava por isso.
E com o tempo, devagarzinho, as coisas começaram a mudar. Ou fui eu que comecei a ver as coisas diferentes e por isso pareceu que mudou. Nem sei...
Às vezs quando a gente reza,






















nem é tanto pra falar com Deus, é mais pra conversar com a gente mesmo.
E Deu fica junto escutando só pra dizer "calma, tô aqui" quando o medo aperta.

O sapo e a joaninha

Daí a joaninha respirou fundo, bem fundo e pousou docemente, na frente do sapo.
-Ninguém quer te ver voando - falou o sapo verruguento - eu ouvi todos os animais rindo de ti e falando que teu vôo é esquisito e sem graça.
A joaninha era tão sensível, coitadinha. Então ela não voou mais.O sapo começou a coaxar bem alto falando agora mal das roupas da joaninha:
-E essas tua roupa aí, vermelha e cheia de bolinhas pretas. Tu te sentes bonita a usando? Te sentes única? Pois ontem, todos os animais estavam a falar que teu modelito é brega e fora de moda. Eu por sinal, também acho ridícula!
A joaninha era tão ingenua, coitadinha. Ela não usou mais sua roupinha, começou a se vestir toda de preto, pra não chamar tanta atenção.


































Certo dia, ao cruzar o lago, a joaninha de longe viu o sapo com uma roupa vermelha de bolinhas pretas saltitando pelo lago e batento as patas, tentando voar.