Doce

Ela era doce, doce, doce. O doce mais doce. Daqueles que parecem não existir.
Daqueles que não enjoam, daqueles que não fazem mal nem a quem vive com a tristeza de ser intolerante a doces.
Mas um dia, um dia triste por sinal, os olhos dela perderam a doçura.
O resto permanecia igual, a voz permanecia igual, os gestos, as ações...
Mas os olhos não.
Olhos que não são tão doces são intolerantes e ela foi ficando intolerante com o tempo. Foi ficando irrelevante, foi reparando em grosserias que ela nem sequer reparava.
Aí ela começou a reclamar das grosserias e pedir pra não fazerem mais.
Ás vezes ela era rude quando reclamava. E quanto mais grosserias por fora dela, mais rudeza surgia por dentro.
Ela foi ficando rude...
rude...
rude...
Pessoas rudes não são doces.












Hoje ela é salgada.